CANABINOIDES SINTÉTICOS

Artigo do psiquiatra Pablo Miguel Roig,, CRM 24968,  Presidente do Conselho Editorial do Instituto Greenwood e sócio-fundador da Clínica Greenwood, referência no tratamento de dependentes de drogas no Brasil, na Argentina e nos Estados Unidos.

A tecnologia e o conhecimento científico, como toda situação dual, estão caracterizados por bons aportes e legados funestos. O tema que nos compete, há algumas décadas, vem sendo “enriquecido” pelas drogas que são produzidas em laboratórios e que têm aumentado significativamente o poder de destruição delas, acrescentando os princípios ativos, baixando o preço do produto e dificultando sua detecção no usuário. Não só os canabinoides foram sintetizados, mas também opiáceos, metanfetaminas, cocaína, etc.

K2 e Spice: “ Me incomoda que pessoas sejam tão estúpidas em usar isto” (John W. Huffman, que sintetizou os primeiros CS (canabinoides sintéticos)

Hoje vou me dedicar aos canabinoides sintéticos devido à constante mentira que acompanha sua distribuição, venda e consumo. As vítimas de seu uso podem se intoxicar comprando um produto de venda nas redes sociais, que divulgam informações imprecisas, para inocentar o poder de destruição destes tóxicos.

A origem destas drogas tem lugar na Carolina do Sul, estado americano em que John W. Huffman sintetizou os primeiros CS (canabinoides sintéticos) com a intenção de que produzir uma molécula que fosse similar à do THC e que esta pudesse ser usada para fins medicinais. Esta foi denominada JWH-18, tendo em conta que estes produtos frequentemente recebem na sua denominação usando as primeiras letras do nome de seus criadores. Em 20 anos desenvolveu ao redor de 400 CS que são usados como ferramentas farmacológicas para estudar a ação dos endocanabinoides nos receptores canábicos. A partir do ano 2000, na Alemanha são encontrados os CS nas ruas com o nome K2 e Spice, vendidas como alternativa ao uso de maconha. Frente a isso, Huffman declara: “Uma vez que começou na Alemanha, era esperado que o uso se dissemine. Preocupa-me que o seu consumo possa provocar danos nos usuários” e após “Isto era mais ou menos inevitável. Me incomoda que pessoas sejam tão estúpidas em usar isto” (tradução do autor).

Já em 1970, Carl Pfizer desenvolveu a série do Cyclohexilfenol (CP) incluindo o composto 47-479, vendido em pó e que dissolvido em acetona é borrifado em ervas ou incenso.

Estes CS são de 3 a 28 vezes mais potentes que o THC agindo principalmente pela grande afinidade que tem por se ligar nos receptores CB1 e menos pelo CB2.

A sua agressividade foi identificada em estudos com ratos, que apresentaram forte inflamação das células que entraram em contato com o produto e danos verificados no DNA dos mesmos.

CANABINOIDES SINTÉTICOS NO BRASIL

No Brasil, os CS entram no ano 2015, na mistura de produtos industrializados com moléculas sintéticas análogas ao THC, que não são subprodutos da maconha, já que a única semelhança é a da estrutura molecular, que permite que se liguem nos mesmos receptores, lembrando que este processo molécula-receptor acontece com o sistema de chave e fechadura. Na atualidade estes produtos chegam a ter uma potência de 80 a 100 vezes maior que a maconha. Alguns CS detectados no Spice são da serie JWH, outros são os AM em homenagem a Alexandros Makriyamis, seu criador, assim como HU desenvolvido na Universidade Hebraica ou os CP, criado por Carl Pfizer.

Pela dificuldade de serem detectados por testes toxicológicos, foram transformados em drogas de eleição por burlarem a proibição ou a supervisão judicial.

No Brasil, em 2014, a portaria 344/98, inclui 14 CS na lista de fármacos que não possuem fins terapêuticos e subscreve a Convenção das Nações Unidas Sobre Substâncias Psicotrópicas que a incrementam em mais 36 produtos.

Os efeitos tóxicos dos CS superam grandemente os já preocupantes dos fitocanabinoides (maconha, haxixe e Skank), devido a sua enorme concentração do princípio ativo, aumentando seu efeito tóxico e levando sua ação a situações dramáticas e letais, principalmente ao se ter seu consumo concomitante com o de álcool.

Os CS, pelo fato de não conterem canabidiol, que além de não ter efeito psicotrópico e conferir o efeito neuro protetor, ter propriedade ansiolítica e reduzir o metabolismo hepático, não conta com seu efeito modulador, deixando o sistema nervoso central do usuário mais exposto ao efeito desestruturante do falso THC.

Existe uma extensa lista de sintomas, consequência do uso de CS.

Os efeitos tóxicos mais comuns são: náuseas, vómitos, ansiedade, alucinação, agitação, taquicardia, hipertensão e insuficiência renal aguda.

Outros efeitos da toxicidade da droga são:

– Efeitos cardiovasculares: Arritmias, cardiotoxicidade, enfarte do miocárdio, bradicardia.

Efeitos pulmonares: Pneumopatias, infiltrados pulmonares difusos, hiperventilação, apneia.

Efeitos digestivos: Dores abdominais, disfagia, lesões ulcerosas.

Efeitos hepatotóxicos: Aumento das enzimas, falência hepática.

Efeitos oftalmológicos: Midríase ou miose, vermelhidão, fotossensibilidade.

Efeitos nefrotóxicos: Necrose tubular aguda, aumento da creatinina

Efeitos cerebrovasculares: Vaso espasmo cerebral, acidente vascular cerebral.

Efeitos psiquiátricos: Significativo aumento das patologias psiquiátricas, principalmente de sintomas paranoides e condutas francamente agressivas.

Efeitos dermatológicos: Escurecimento de pálpebras, emagrecimento e envelhecimento do rosto, acne e calvície precoce.

Efeitos neurológicos: Tremores, vertigem, ataxia, fasciculações, hipertonia, hiperflexão, nistagmo, discurso lento, desordem de consciência, perturbações de memória, confusão, convulsões, fortes cefaleias.

O NIDA em seu trabalho de análise dos CS destaca com sintomatologia frequente: ansiedade, agitação, náuseas, vômitos, hipertensão, convulsões, alucinações, pânico, incapacidade de comunicação, paranoia, atos violentos e morte.

SEM CONTROLE

Os CS, cuja distribuição e venda não tem um controle efetivo, pelo fato de se criarem modificações da sua estrutura molecular, driblando a proibição e sua comercialização está carregada de mentiras, sendo vendidas, frequentemente pela internet, em embalagens atrativas e alegando que são produtos naturais (como se isto fosse uma vantagem). A quantidade assustadora de efeitos provocados pela sua toxicidade e concentração do princípio ativo não são motivos para considerar que é melhor o uso de maconha, apesar que encontramos declarações de colegas que defendem esta posição. Em trabalhos anteriores e na “live” que foi ao ar no dia 21 de outubro de 2020 pelo Instituto Greenwood, somos categóricos em relação aos danos provocados pelos fitocanabinoides, principalmente quando seu consumo é em idades precoces.

É função do Instituto trazer informação verdadeira, com base no conhecimento científico, sempre com a intenção de incentivar uma vida digna, saudável, produtiva, com respeito aos valores básicos e a organização de prioridades. Com este objetivo declaramos firmemente que os avanços da destrutividade devem ser evitados e sem dúvida as “designed drugs” representam um dano à sociedade de proporções imprevisíveis.