“Kalina:Gratidão, sempre, meu professor e amigo.”Helena Parolari*
Como diz Cora Coralina “Estamos todos matriculados na escola da vida, onde o presente é o tempo”. Eu acrescento:as pessoas também! Na minha linha do tempo fiz um maravilhoso amigo. Como aconteceu esta história? Assim: No 2º semestre do ano de 1987, no início da minha carreira profissional na área da dependência química, eu me deparei com um autor que ensinava e praticava em sua clínica uma proposta mais humana, isto é, não só a doença, mas o que acontecia com seu mundo interno emocional (psique) e com seu mundo externo (família e social). A esta estratégia, ele dava o nome de “Prática homem a homem”. Fiquei curiosíssima e fui atrás para saber de quem se tratava,. Descobri ,então , Doutor Eduardo Kalina, um psiquiatra argentino, grande estudioso e inovador das práticas para com o trabalho destes pacientes, Dependentes Químicos, tão difíceis, porém tão especiais. Comecei a ler todos seus livros, passei a participar de congressos na Argentina. Pois é, naquela época uma leitora assídua, uma profissional em início de carreira bebendo da fonte, encantada, tentando praticar o que aprendia nos livros e nas conferências. Ah! Mal sabia eu o que o destino, a linha do tempo, me preparava.
No ano de 1989, já trabalhando na Clínica Greenwood, tive o imenso prazer de ter a primeira supervisão de equipe com o Doutor Eduardo Kalina, a convite do Doutor Pablo Roig, outro grande amigo que fiz na minha linha do tempo. Quão grande alegria! Quanta satisfação! Estar perto de um mestre, Eduardo Kalina! Ali, o conheci não só pelas palavras escritas, mas sim em sabedoria e caráter! Pessoa linda, sábia, amorosa, apaixonada pelo que faz, leve, alegre e cômico. Faz a vida e o trabalho ser encantador, leve, mesmo sendo difícil e carregado de um certo grau de desafeto pelos quais a quem tratamos.
Daquele período até os dias de hoje, todas as vezes que leio e que estou com Eduardo, como hoje posso chamá-lo, só aprendo. Tive e ainda tenho privilégio ímpar de ser supervisionada por ele, aprendendo a trabalhar com as famílias, suas dificuldades, seus pactos prejudiciais, suas doenças escondidas através do parente tão adoecido. Entender as dificuldades dos pacientes Dependentes Químicos, seus pactos com a morte, suas buscas incessantes pelo prazer imediato, seus diversos estágios da doença e suas dificuldades, alguns com sua cronicidade, outros, suas perversões, passo a passo, anos seguidos. Aprender a entender o paciente através de um diagnóstico multidisciplinar, dando ao paciente e à família a possibilidade de ver e viver uma vida saudável e melhor, independente da doença que pode ser administrada. A possibilidade de viver uma vida que vale a pena ser vivida, a pesar de. Também tivemos e temos vivências em momentos descontraídos, culturais, enfim experiências incontáveis. “
*Psicóloga Helena Parolari, Diretora do Instituto Greenwood – Centro de Ensino e Pesquisa