Drogas e população infantojuvenil: crianças já dependentes e adolescentes no tráfico

Artigo do psiquiatra Pablo Miguel Roig, CRM 24968, fundador e Diretor da Clínica Greenwood, referência no tratamento de dependentes de drogas e de outras graves doenças mentais.

Em nossa instituição, a Clínica Greenwood, tratamos, desde 1986, milhares de pacientes que em sua maioria começou o uso de drogas no período infantojuvenil. São raríssimas as exceções.

Vale lembrar que este momento da vida, é de extrema importância para a estruturação da personalidade, desenvolvimento de elementos defensivos psicológicos eficientes, uma boa condição cognitiva e as deformações destes aspectos podem representar danos permanentes, para os usuários destes venenos existenciais.

O Dr. Charles Barnet Nemeroff, no trabalho apresentado no Congresso Americano da APA ( American Psychiatric Association) de 2019, em São Francisco, descreve o impacto que advém de traumas precoces na vida dos indivíduos, com alterações genéticas que os coloca em situação de ineficácia para lidar com o estresse e a ansiedade. Nem seria necessário apontar que esta ineficiência para lidar com as emoções encontra um casamento perfeito para a procura da ação anestesiante ou euforizante das drogas psicotóxicas legais ou ilegais.

ÁLCOOL E MACONHA NA INFÂNCIA

Drogas usadas na mais tenra idade como álcool e cannabis também são responsáveis pela imaturidade cerebral, provocada pela ação do THC, princípio ativo da maconha, que provoca os efeitos do “barato” e que compete com os endocanabinoides, produzidos pelo nosso organismo e que são os responsáveis pelo amadurecimento cerebral que se completa na vida adulta. Argumento suficiente para colocar o foco em nossas crianças e adolescentes, cumprindo com o princípio básico da atitude médica que afirma que “é melhor prevenir que remediar”.

Sabemos que a adicção é uma doença que, sempre está acompanhada de negação por parte do usuário, de sua família e da própria sociedade. Sabemos também que a estrutura familiar, em muitos casos, não responde aos princípios básicos da criação, com atitudes questionáveis, indiferença, falta de acompanhamento e conhecimento dos filhos por parte dos pais e a consequente ausência de passagem dos valores essenciais para o desenvolvimento de uma vida decente. Podemos afirmar que o modelo químico de enfrentamento de situações emocionais, frequentemente é aprendido em casa.

CAMPANHA DE PREVENÇÃO,CADA VEZ MAIS NECESSÁRIA

Paradoxalmente, tendo em conta estes argumentos, a postura social não cumpre com os elementos da prevenção primária nem secundária, limitando-se a tratar os casos já instalados, com prejuízos que se estendem durante anos ou décadas,trazendo sofrimento para quem tem a doença e todos os que o circundam.

Carecemos de políticas que levem a sério a magnitude do problema, enfrentamos políticas liberacionistas que, com falsas informações e manejos claramente político-econômicos, pretendem aumentar o arsenal de substâncias destrutivas, sabendo-se que quanto maior a oferta maior é o uso.

O PODER DESTRUTIVO DA DEPENDÊNCIA DE DROGAS

Claramente, a dependência química é uma doença da infância e da adolescência, que se alastra ao longo da vida pela passividade da sociedade e das políticas públicas em relação à saúde da comunidade. Não pode se negligenciar o foco do problema e também negar ingenuamente o poder destrutivo desta doença, já é sabido que de todo investimento em tratamento devolve o triplo somente em produtividade. 

CRIANÇAS E ADOLESCENTES DEPENDENTES NÃO TÊM ONDE SEREM TRATADOS COM ESTRUTURAS EFICIENTES

As últimas publicações sobre a situação da droga e os adolescentes são absolutamente preocupantes. As crianças e adolescentes acometidos por esta doença, não têm onde serem tratar com estruturas eficientes.

2.605 MENORES POR TRÁFICO , NA FUNDAÇÃO CASA, EM SP

Os que já incorreram em crimes e que são internos na Fundação Casa de São Paulo, respondem a números assustadores, sendo o 50,05% dos internos reclusos por tráfico de drogas, chegando à cifra de 2605 indivíduos, seguido por 33,12% por roubo qualificado. Os praticantes de tráfico, concentram-se entre os 15 e 18 anos, mas não devemos desconsiderar os 3 traficantes com 12 anos, 22 com 13 e 99 com 14.

É PRECISO ORÇAMENTO PARA TRATAMENTOS EFICAZES

Não basta criar programas de fantasia e ingênuos. Não podemos ceder ante uma doença com tamanho poder destrutivo. Devemos dedicar orçamentos condicentes com a situação. Devemos desenvolver programas efetivos, científicos, com conhecimento de causa e abrangentes. Favorecer a abstinência de drogas psicotóxicas para a recuperação da estrutura neurobiológica e assistência psicossocial, incluindo quando possível a família para funcionar como ponto de apoio da alavanca terapêutica. 

Sabemos que as políticas públicas, até agora, foram de uma ineficiência notável, somando a isto os interesses espúrios que acompanham o “produto droga”, que alimenta um mercado bilionário com personagens ávidos de obter o benefício de sua comercialização. A situação está cada vez pior.

Vamos olhar para as novas gerações e pensar que futuro queremos para elas. Isto só se realiza observando os cuidados necessários e obrigatórios que como membros da sociedade temos.

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