“A quem interessa liberar mais uma droga, já que as legais são as que mais vítimas produzem? ” Dr. Pablo Roig ao iniciar a série “Instituto Greenwood comenta sobre a maconha”

“INSTITUTO GREENWOOD COMENTA SOBRE A MACONHA”, título da série que iniciamos hoje no site do Instituto. Começamos com a revelação do Diretor da Clínica Greenwood, psiquiatra Pablo Miguel Roig, CRM 24968: “Recentemente, em um período de um ano, recebemos cinco casos graves de psicose, causados pelo uso de maconha.”
Presidente do Conselho Editorial do Instituto Greenwood, o doutor Pablo Roig denuncia: “Estamos sendo vítimas de campanhas mentirosas sobre a maconha, que podem danificar toda uma geração e que será muito difícil recuperar para eles o caminho da coerência pessoal e social.”
Na série, publicação de resultados de estudos sobre maconha realizadas por conceituados centros de pesquisa e avaliações de especialistas.


COMEÇAMOS COM O ARTIGO DO PSIQUIATRA PABLO MIGUEL ROIG que questiona: “A quem interessa liberar mais uma droga, já que as atualmente legais são as que mais vítimas produzem? ”

Psiquiatra Pablo Roig

Muito tem se falado a respeito da maconha, principalmente neste momento em que se questiona seu poder terapêutico, seu uso moderado, sua ausência de risco em relação à dependência e o argumento de que sua liberação diminuiria o tráfico e a dependência a outras drogas. Deve ser o único fármaco que têm fanáticos defensores e que é tema para jornalistas, juristas, políticos, empresários, mas que tem entre cientistas e profissionais da saúde, críticos com conhecimento de causa. Os trabalhos de instituições sérias como o NIDA, colocam a droga como uma substância de risco, e que seu uso precoce causa danos a curto e longo prazo. Nós, que trabalhamos na recuperação de dependentes, vemos o dano que esta substância provoca na estrutura psíquica do usuário, aumentando a incidência de patologias psiquiátricas e diminuindo os recursos cognitivos de suas vítimas, cronificando, em muitos casos, uma posição adolescente frente a vida.

Recentemente, em um período de um ano, recebemo CINCO casos graves de psicose motivados pela cannabis, patologias agudas, que em sua maioria e com o tratamento adequado recuperaram seu contato com a realidade, mas persistindo uma fragilidade egóica, com diminuição de recursos defensivos frente a estímulos, às vezes, corriqueiros.

Psiquiatra Valentim Gentil Filho

Dr. Valentin Gentil Filho em artigo na revista Scientific American ,além de alertar para os riscos à saúde provocados pela maconha, faz referência aos danos a longo prazo, incluindo o desenvolvimento de quadros demenciais em forma precoce.

Eu me pergunto, quais elementos valorativos são usados para promover a liberação desta droga? Que conceitos vão regulamentar o seu uso, caso venha a ser liberada? Com quais recursos terapêuticos contaremos para afrontar os danos de seu consumo? De que serviu a percepção do erro cometido pelo Uruguai, que teve aumento da criminalidade, de patologias psiquiátricas, de uso de drogas psicotóxicas? A quem interessa liberar mais uma droga, já que as atualmente legais são as que mais vítimas produzem?

Estamos sendo vítimas de campanhas mentirosas, que podem danificar toda uma geração e que será muito difícil recuperar para eles o caminho da coerência pessoal e social. Como sempre,e atualmente temos o exemplo da pandemia do COVID-19, os que estamos na linha de frente na saúde somos os últimos a ser ouvidos. Parece que os interesses político-econômicos prevalecem.

Ilustração do NIDA-National Institute on Drug Abuse mostrando como o THC prejudica várias áreas do cérebro : prejudica memória, prejudica movimento do corpo, dificulta pensar e resolver problemas

Só para ilustrar, em trabalho recente, enumerei alguns danos do uso da maconha, que resumidamente citarei a seguir:

-A adolescência é um período de mudanças no sistema nervoso central (SNC), através de podas sinápticas, aparecimento de novas fibras e mielinização, com o objetivo de proporcionar amadurecimento neuro cognitivo, afetivo e social. Este processo tem início na parte posterior e termina, anos mais tarde na região frontal.

-O lobo occipital tem funções mais básicas, como a percepção e o processamento visual.

-O lobo frontal tem funções mais complexas, como a cognição, o planejamento, as representações mentais do mundo exterior, o raciocínio lógico e a produção da fala.

-O cerebelo atua no controle e aprendizado motor, a manutenção da postura e o equilíbrio, a música e habilidades sociais mais avançadas.

Com o uso de cannabis, principalmente, tendo em conta que a idade de começo é por volta dos 14 anos, período de extrema importância para o amadurecimento, esta missão a cargo dos endocanabinoides não se efetua normalmente, pelo fato do THC bloquear os receptores próprios para esta tarefa. Verificamos que é necessário para que esta missão se realize que se

respeitem fatores como:

– diminuição da substância cinzenta nos lobos frontais e

parietais;

-aumento da mielinização na substância branca;

– a maturação, por último, das regiões pré-frontais, que permite

uma comunicação mais eficiente com as outras estruturas

corticais e subcorticais, melhorando os processos de tomada de

decisão, planejamento, memória de trabalho, metacognição,

regulação comportamental e controle emocional.

Verificamos que o THC é responsável pela perda de refinamento dos circuitos neuronais no córtex pré-frontal. Também afeta a organização dos circuitos neuronais de importante neurotransmissores como Dopamina e Gaba na mesma região.

Como resultado percebemos alterações neuro cognitivas de

curto prazo como:

-inteligência geral;

-velocidade de processamento;

-memória de trabalho;

-atenção;

-aprendizagem;

-memória verbal;

-capacidade de planejamento;

-presença de erros perseverativos.

As alterações de longo prazo mais frequentes na área

neurovegetativa são:

– diminuição das capacidades atencionais;

– alteração da velocidade de processamento;

– diminuição das memórias de curto e longo prazo.

Não é possível ignorar estes fatores, que fazem parte do conhecimento que adquirimos com décadas de trabalho terapêutico na tentativa de ajudar os pacientes a recuperar sua coerência psico-neuro-social, tarefa que realizamos com esforço pessoal, estudo e participação. Nossa preocupação não é preconceituosa e sim realista, já que como dito anteriormente estamos na linha de frente desta guerra, que atinge a sociedade como um todo. Precisamos de uma participação coerente da sociedade para um enfrentamento firme contra esta situação espúria que afeta diretamente a nossa saúde pública de forma inconsequente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *