“Kalina:sou grato por tudo que aprendi como aluno, colega e, principalmente, como amigo.”Psiquiatra Francisco Baptista Neto

Série HOMENAGEM do Instituto Greenwood AO DOUTOR EDUARDO KALINA, que completa 83 anos em novembro. https://institutogreenwood.com.br/parabens-mestre-kalina/

A HOMENAGEM DO DR. FRANCISCO

“KALINA, UM HOMEM À FRENTE DE SEU TEMPO”

Eduardo Kalina, como defini-lo? Poderia dizer: um gênio. A genialidade de um homem à frente do seu tempo, que enxergava o que outros sequer tinham imaginado. 

Em 1977, estávamos realizando a IV Reunião do Fórum Pan-americano para o Estudo da Adolescência, em Salvador,Bahia, encontro que reuniu mais de 2000 pessoas. Vários convidados estrangeiros, destaque para Margareth Mead e Otto Kemberg, entre muitos. Kalina fazia parte da comissão organizadora. Todos os dias encerrávamos os trabalhos com uma conferência proferida por um convidado especial. Em determinado dia, às 14 horas, recebemos a notícia que o conferencista daquela tarde tinha perdido o avião no Rio de Janeiro e que não ia poder comparecer à 17:00 horas para proferir sua palestra. Tomados de surpresa, nos reunimos para encontrar uma solução. Kalina adiantou-se e disse: “deixem comigo, me deem três horas que eu resolvo o problema, eu vou fazer a conferência”. Na hora marcada Eduardo compareceu ao auditório e proferiu uma das mais brilhantes conferências do Fórum.

“ADOLESCÊNCIA E CIBERNÉTICA, SEU TEMA JÁ NOS ANOS 70, E APLAUDIDO DE PÉ POR DOIS MIL ESPECIALISTAS”

Falou sobre a adolescência e a cibernética, vaticinando, naquela oportunidade, que haveria um dia que o homem não precisaria sair de casa para exercer o seu trabalho, antevendo os avanços tecnológicos alcançados somente quarenta anos depois. Foi aplaudido de pé.   Mas este é o Dr. Kalina, o mestre, o menino prodígio da psicanálise na Argentina, o escritor,  o psiquiatra biológico, o terapeuta inovador que revolucionou o tratamento com adictos de drogas e que se tornou referência na América Latina e em outras partes do mundo. Mas quero também falar de Eduardo Kalina, o homem, cuja disponibilidade ultrapassa o comum na maioria das pessoas. Disse certa vez que Kalina é daqueles que não se conformam. Permanece jovem. E esse é o ponto central do amigo e companheiro de mais de 40 anos. Quando o conheci fiquei fascinado pelos seus conhecimentos mas, sobretudo, pelo clima de segurança e alegria que ele nos envolvia.

“KALINA: ALEGRIA, GENEROSIDADE E BONDADE”

A alegria é, sem dúvida, junto com a bondade e generosidade, uma das características principais de Kalina. Essa tríade faz com que ele nos transmita o amor à vida, a alegria de viver. Assim ele faz com seus pacientes, assim ele faz com seus amigos.  Um exemplo disso aprendi quando dirigia uma instituição para menores portadores de distúrbio de conduta e pedi a ajuda ao amigo.

“UM TERAPEUTA QUE VAI TRABALHAR COM ADOLESCENTES DEVE GOSTAR DELES”

Dando uma supervisão para os funcionários ele disse: “Um terapeuta que vai trabalhar com adolescentes deve gostar deles. É tão elementar que parecerá ingênuo, mas, sem dúvida, é algo fundamental. Os conhecimentos são muito importantes, são essenciais, todos temos que estudar, conhecer, porém há algo que vai além dos conhecimentos e que é inerente à condição humana da pessoa, é se ela pode ou não gostar de adolescentes, porque quando não gostamos das pessoas a quem prestamos nossos serviços, fazemos um trabalho muito diferente do que quando trabalhamos com pessoas de quem gostamos”. Ali estava um Kalina que não gosta só de adolescente. Ele gosta, sobretudo, de gente. Ele gosta de gostar de pessoas.

     Certa feita, em dos muitos encontros em que estivemos juntos com nosso também querido amigo Carlos Castellar, ao vê-lo distribuindo conhecimento e alegria para todos que o cercavam, Castellar observou: “Você já viu como o Dito, apelido carinhoso de Kalina, é bom”? Acrescentando “o desprendimento com que ele se dá e oferece sua sabedoria e suas coisas é comovente, ele é um sábio”.

     Não foi sem motivos que Eduardo escolheu a adicção como um dos objetos do seu trabalho, pois ele mesmo é um adicto: de conhecimentos e de amigos.

    PRIVILÉGIO TER A AMIZADE DE KALINA

     Tenho o privilégio de ter convivido com Kalina ao longo dos anos e tê-lo escolhido e ser escolhido como um dos seus irmãos, podendo eu, minha esposa e filhos, conviver com ele, sua mulher e seus filhos, alguns que vi nascer. O destino foi generoso comigo ao pô-lo no meu caminho ainda jovem e sou grato por tudo que aprendi com ele como aluno, colega e, principalmente, como amigo.